É amplamente reconhecido que a Bíblia Sagrada é uma obra primordialmente judaica, tendo em vista sua origem literária. Portanto, é de grande valor histórico estudar os métodos de interpretação bíblica utilizados pelos próprios judeus. Para melhor aproveitamento do aluno, vamos explorar esse assunto, considerando as diferentes escolas de interpretação das Escrituras entre os judeus.

✍️ Os Judeus Palestinenses

Os judeus palestinenses, também conhecidos como escribas, possuíam um profundo respeito pela Bíblia de sua época (o Antigo Testamento), considerando-a como a infalível Palavra de Deus. Eles até mesmo consideravam as letras sagradas, e seus copistas tinham o hábito de contá-las para evitar qualquer omissão durante a transcrição. Naquela época, as Escrituras eram divididas em três partes: Lei, Profetas e Escritos. Os palestinenses valorizavam a Lei acima dos profetas e dos demais escritos que compunham a Bíblia. Eles faziam uma distinção clara entre o sentido literal da Bíblia e sua exposição exegética.

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No entanto, um ponto negativo da hermenêutica dos judeus palestinenses era sua exaltação da Lei Oral, que consistia em milhares de tradições verbais acumuladas ao longo dos séculos, enquanto desprezavam a Lei Escrita. Por esse motivo, Jesus os condenou em Marcos 7.13. Esse método arbitrário de interpretação deu origem a outros tipos de interpretação igualmente questionáveis.

✍️ Os Judeus Alexandrinos

A interpretação bíblica dos judeus alexandrinos era influenciada, em certa medida, pela filosofia predominante na cidade de Alexandria, no Egito. Eles adotavam o princípio fundamental de Platão, que dizia que ninguém deveria acreditar em algo que fosse indigno de Deus. Dessa forma, quando encontravam algo no Antigo Testamento que entrava em conflito com sua filosofia e desafiava sua lógica, recorriam a interpretações alegóricas. Filo foi o principal expoente desse método de interpretação entre os judeus alexandrinos. Para ele, a letra das Escrituras era apenas um símbolo de conceitos mais profundos, sendo assim, o significado oculto das Escrituras era o mais importante.

Infelizmente, essas regras abriram espaço para diversos erros de interpretação do texto sagrado entre os judeus alexandrinos. Filo afirmava que “o sentido literal deve ser excluído quando é indigno de Deus, quando envolve contradição ou quando a própria Escritura faz uso de alegorias”. Por outro lado, ele defendia a alegorização do texto quando as expressões eram ambíguas, quando havia palavras supérfluas, repetições de fatos conhecidos, variedade de expressões, uso de sinônimos, possibilidade de jogos de palavras, ligeiras alterações nas palavras, expressões raras ou algo anormal em relação ao número e tempo gramatical. Essas interpretações abriram caminho para uma ampla gama de erros na interpretação do texto sagrado pelos judeus alexandrinos.

✍️ Os Judeus Caraítas

A seita dos judeus Caraítas foi fundada por Anan ben David por volta do ano 800 d.C. Historicamente, eles são considerados herdeiros espirituais dos saduceus e representam um protesto contra o rabbinismo, sendo parcialmente influenciados pelo islamismo. Os Caraítas (que significa “filhos da leitura”) eram assim chamados porque consideravam a Escritura como a única autoridade em assuntos de fé. Isso implicava, por um lado, o desprezo pela tradição oral e pela interpretação rabínica e, por outro lado, um novo e cuidadoso estudo do texto das Escrituras. Para combater essa abordagem, os rabinos também iniciaram estudos semelhantes, e o resultado desse conflito literário foi o texto massorético. De modo geral, a exegese dos Caraítas era mais precisa do que a dos judeus palestinenses e alexandrinos.

✍️ Os Judeus Cabalistas

O movimento cabalista do século XII representava uma abordagem bastante diferente das mencionadas anteriormente. Na verdade, era uma forma extrema de interpretação das Escrituras. Os cabalistas acreditavam que até mesmo os versículos, palavras, letras, vogais e até mesmo os acentos das palavras da Lei foram entregues a Moisés no Monte Sinai e que “o número de letras, cada letra individualmente, a transposição e a substituição tinham um poder especial e sobrenatural”.

✍️ Os Judeus Espanhóis

Durante o período entre os séculos XII e XV, desenvolveu-se um método mais saudável de interpretação das Escrituras entre os judeus da Espanha. Enquanto a exegese da Igreja Cristã enfrentava dificuldades e o conhecimento do hebraico era quase nulo, alguns judeus instruídos da Península Ibérica revitalizaram o interesse por uma hermenêutica bíblica sólida. Algumas de suas interpretações são citadas até os tempos modernos como referência por estudiosos da Bíblia.

📚 Referências

OLIVEIRA, Raimundo F. de. Princípios de Hermenêutica: Estudo e Compreensão da Bíblia.

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