Fazer midrash é interpretar os textos bíblicos seguindo os métodos e técnicas rabínicas.

No primeiro século da era cristã, a hermenêutica judaica possuía quatro métodos ou, como preferem alguns, níveis de interpretação. São modos elementares para se compreender o texto sagrado.

Sobre os métodos judaicos, David Stern escreve:

Estude a Bíblia!

P’shat (simples) – o sentido literal e pleno do texto, mais ou menos o que acadêmicos modernos chamam de “exegese histórico-gramatical”, que olha para a gramática da linguagem e às questões históricas como pano de fundo para decidir o que uma passagem significa. Acadêmicos modernos frequentemente usam a exegese histórico-gramatical como sendo o único meio válido de lidar com um texto; pastores que usam outras abordagens em seus sermões usualmente sentem-se na defensiva sobre isso diante de acadêmicos. Mas os rabinos tinham três outros meios de interpretar as Escrituras e sua validade não deveria ser excluída de imediato, mas relacionada à validade de suas pressuposições implicadas.

Remez (dica) – presentes numa palavra, numa expressão ou em outro elemento no texto estão dicas sobre uma verdade não estabelecida pelo p’shat. A pressuposição implicada é que Deus pode dar dicas de coisas sobre as quais os escritores da Bíblia não tinham conhecimento.

Drash ou Midrash (busca) – uma aplicação alegórica ou Homilética de um texto – em oposição à exegese, que extrai do texto o que ele de fato quer dizer. A pressuposição sugerida é de que as palavras das Escrituras podem se tornar legitimamente os grãos para o moinho do intelecto humano, que Deus pode guiar as verdades não relacionadas diretamente ao texto como um todo.

Sod (segredo) – um significado místico ou escondido, alcançado pela operação de valores numéricos de letras hebraicas, ressaltando formas de soletrar incomuns, transpondo letras e coisas do gênero.[1]

Esse método judaico pode ser representado pelo acróstico PaRDeS (jardim, pomar).

O P’shat (literal ou superficial): é conceituado como o significado natural e claro do texto, leva em consideração a questão histórica e gramatical.

O Remez (alusão, alegoria): aqui o autor dar pistas que o intérprete precisa seguir até achar o significado.

O Drash (associação, pesquisa): este método possui regras definidas. Joseph Shulam diz que o drash leva em consideração não apenas o que está escrito, mas também o que é lembrado pelo leitor quando o texto é lido. O método drash examina não somente o texto principal que está sendo estudado ou interpretado, mas também quaisquer outros textos sagrados que são associados ao texto principal. Quando se associa esses textos, pode-se aprender algo que não se entendeu anteriormente. O drash, segundo o autor, é o método mais difícil de ser conceituado, uma vez que requer a compreensão da conexão entre os textos.[2]

Shulam alerta seus leitores sobre o perigo que surge quando as pessoas começam a associar sem regras, pois isso pode se transformar em um exercício sem limites. A ideia de associação, a drash, tem que ter regras e razões. Não se pode sair por aí tirando as coisas de seus contextos para fazer um texto dizer o que se quer.[3] A associação pode elevar o grau de compreensão de determinados textos que relatam os mesmos acontecimentos, às vezes de formas ou óticas diferentes (sinópticos).

O Sod (segredo): alguns rabinos afirmam que o nível Sod é uma forma de o autor se comunicar com seus iguais por uma linguagem específica. Um texto pode ser interpretado de forma progressiva.

O problema é quando se quer aplicar isso em todo texto bíblico, incorrendo num grande equívoco na interpretação bíblica. Temos insistido que cada texto bíblico deve ser observado à luz do seu contexto e forma literária.

Joseph Shulam afirma que mandamentos diretos normalmente não requerem um sod, um remez, ou um midrash para serem compreendidos.[4] O princípio que rege essa afirmação é que o texto não pode ser forçado a dizer o que ele não quer dizer. O leitor que busca interpretar corretamente o texto bíblico precisa conter suas emoções e seu espírito exegético aventureiro.

O método alegórico bem como os demais métodos interpretativos não podem ser desprezados, porém não se pode achar que todo texto tem alegoria ou que deve ser interpretado totalmente no letrismo estático.


REFERÊNCIAS

[1] STERN, David. Comentário Judaico do Novo Testamento, p. 36-37.

[2] SHULAM, Joseph. Tesouros Ocultos, p. 24.

[3] Idem, p. 27.

[4] SHULAM, Joseph. Tesouros Ocultos, p. 46.

Estude a Bíblia!

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